Por Gerson Lima.
“Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro.”
― Apocalipse 2.1[1]
No fim do primeiro século, Jesus se dirigiu às sete igrejas na Ásia como a sete candelabros de ouro. Embora as igrejas mantivessem comunhão entre si, Ele se dirigiu a cada uma de forma independente. Não havia candelabro isolado dos demais, nem uma fundição de todos os candelabros. Havia uma santa dependência com independência. Ele julgou cada igreja de acordo com sua respectiva realidade espiritual; e a realidade era muito diferente das aparências ou convicções que cada uma tinha. Seria terrível se o juízo decretado a Tiatira caísse também sobre Filadélfia por estarem amalgamadas.
Jesus não se dirigiu a um centro da obra apostólica ou a uma liderança extralocal para que entregasse Suas cartas às igrejas. Na verdade, embora houvesse ministérios que servissem às igrejas, não havia um centro administrativo controlador.
Jesus se dirigiu diretamente ao anjo de cada igreja. Não havia obreiros intermediários entre as igrejas ou entre o Senhor e as igrejas. Os obreiros extralocais serviam às igrejas como pais espirituais, conselheiros e ministros da Palavra; ainda assim, nem mesmo Paulo ou João controlavam as igrejas. Elas reportavam diretamente ao Cabeça, e Ele passeava entre os candelabros, alimentava, cuidava e julgava.
Os obreiros apostólicos serviam às igrejas como servos enviados pelo Senhor, mas não como seus governadores. O governo de cada igreja recaía sobre os ombros dos anciãos locais. Eles não instituíram um centro controlador. Infelizmente, a institucionalização da “a obra” ou do “o ministério” se dá pela falta de realidade espiritual do que de fato seja a obra e o ministério. Quando se perde a realidade espiritual, a imitação surge.
A treliça (a estrutura) é necessária como suporte para a videira prosperar, mas em João 15 o Senhor não chama atenção para a treliça, e sim para a videira. E o Pai corta as varas que roubam para si a vida da videira. O foco do Pai é sempre o fruto, não as varas nem as estruturas.
É verdade que Paulo ressalta certa hierarquia de ministérios em 1 Coríntios 12:
“Ora, vocês são o corpo de Cristo e, individualmente, membros desse corpo. A uns Deus estabeleceu na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, os que têm dons de curar, ou de ajudar, ou de administrar…” ― 1 Coríntios 12.27-28
Ele ressalta uma hierarquia de serviço, e não posicional; ela é funcional. Ele ressalta a importância do ministério da Palavra no âmbito da Igreja universal, como um todo, e não apenas de uma assembleia local, porque todos os demais dons e ministérios dependem e procedem dele. Se o ministério da Palavra não tiver prioridade na obra de Deus, tudo perderá seu real valor e se desviará de seu propósito principal.
Quando há realidade espiritual, a comunhão e serviços são a expressão do Espírito de Cristo por meio de servos crucificados, e raramente se percebem certas estruturas. Cristo é ressaltado, não os homens. Ele usa homens, em comunhão e sujeição mútua, mas não os centraliza. Ele usa homens quebrantados como Seus servos.
Como bem disse Andrew Murray, “o homem humilde respeita cada filho de Deus, mesmo o mais débil e o mais indigno, e honra-o e o prefere em honra como o filho de um Rei. O espírito d’Aquele que lavou os pés dos discípulos faz com que nos seja, de fato, uma alegria sermos os menores, sermos servos uns dos outros”.[2]
A Palavra do Senhor, a unção do Espírito e as lições da história testificam se estamos no caminho que é Cristo ou se nos deslizamos pelos sutis atalhos do orgulho e do engano que centralizam homens e estruturas. Os andaimes são necessários enquanto a casa é edificada, mas devem ser removidos o quanto antes e não institucionalizados; é um equívoco quando eles chamam mais atenção do que a casa.
Para aqueles que buscam servir ao Senhor de forma viva, o desafio é viver com simplicidade e humildade na base de uma assembleia local onde o Senhor os colocou e manter comunhão e cooperação, na dependência do Espírito Santo, com aqueles que a Cabeça os vincula além de sua respectiva localidade. Relacionamento e cooperação ministerial somente são possíveis quando há um ambiente de boa vontade, respeito, reconhecimento mútuo e discernimento de diversidade de dons e ministérios para complementação, proteção e correção, coordenados pela Cabeça.
Precisamos aprender a seguir Aquele que Se move no meio dos candelabros de ouro. Se porventura alguns persistem em seguir formas e estruturas rígidas e fixas, que sufocam o fluir da vida e a liderança do Espírito Santo, roubando a realidade e identidade de cada candelabro, então precisamos ouvir o Mestre falar: “O que você tem com isso? Quanto a você, siga-Me” ― João 21.22.
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Escrito em Monte Mor, SP, em 15 de junho de 2020.
[2] Humildade – a beleza da santidade, publicado pela Editora dos Clássicos.
Um comentário
Que o Senhor tenha primazia em Sua Igreja!